Se eu tivesse um poder, pediria para passar um dia na vida de cada antepassado meu. Saber como era minha avó aos 20. Meu bisavó aos 13 e sua mãe aos 36.
Erro meu pensar que nós é quem vivemos uma rotina empírica. Entre cerquinhas de balaustra e passeios sofridos de jardineira, Dona Tereza, hoje com 76 anos, aprendeu nos erros e acertos do barro que o que importa em uma bagagem de mudança não são os jogos de jantar, as peças de porcelana, ou a coleção de vestidos floridos.
Isso tudo se vai na mesma velocidade com que substituíram os trilhos do trem. E acima da ex-linha férrea, o passado fica quieto atrás do progresso concreto e vertical. Já lá em baixo, o passado vive mais honestamente: sem saudosismo, mas no contraste que trás harmonia ao presente. E é entre meninos de Kichute e jardins de rosas que permanece a riqueza.
Meus medos eram os medos deles? Acredito que sim. A sociedade pode ter mudado. A arquitetura recria novas curvas. Os jovens se rebelam contra outras convenções e as crianças parecem vir com chips.
Mas a essência ainda está lá. O fio que conduz nossa evolução desde o nascimento, passando por todos os medos que nos levam ao crescimento. Estão todos lá, guardados em algum pedacinho de átomo que nos define como humanos.
E enquanto for assim, seus avós poderão dizer muito sobre você e sobre seu mundo. Longe das amarras e obrigações da rotina, só eles conseguem extrair a verdadeira lição de viver uma vida comum. E Dona Tereza já foi só Tereza. Filha, irmã e pretendente que chorou por medo de nunca mais ver aquele que jurou (e acertou!) ser o amor de sua vida.
Dona Tereza não é dona das mãos dessa foto e não é minha avó. Mas ela existe e é uma inspiradora.
Tati